










Coscoréis
A iguaria que era confeccionada em primeiro lugar para as bodas eram os coscoréis, isto porque a sua durabilidade assim o permitia. Eram servidos aos visitantes antes, durante e depois da boda, adornados com um ramo de laranjeira.
Na semana posterior ao casamento, os noivos presenteavam cada um dos seus novos vizinhos com um prato de coscoréis. Dizia-se que, com este ritual, se iam “dar por vizinhos”. O novos vizinhos retribuíam, oferecendo um prato ou uma taça.
A sua elaboração obedecia a alguns rituais:
• Eram feitos em locais reservados, de forma a evitar os “maus olhados”.
• Quando não esticavam até ao tamanho desejado, ia pedir-se a quem naquela localidade soubesse, para que essa pessoa rezasse as “palavras do cobranto”.
• As cascas dos ovos só podiam ser colocadas no lixo depois de todos os coscoréis já estarem feitos.
• Consideravam-se amassados quando a cozinheira, a ajudante e a dona da casa estivessem cansadas. Outro critério era quando estes fossem pingados pelo suor.
• Por fim, a massa era colocada num alguidar de barro, fazia-se uma cruz e marcavam-se os cinco dedos da mão direita na massa, que simbolizavam as cinco chagas de Cristo. E dizia-se:
" Deus te ajude, Deus te acrescente,
Em louvor das cinco chagas de Cristo.
Que fiques bom e que dês de comer a muita gente."
• Eram confeccionados por várias pessoas ao redor da lareira. Colocava-se um pano de linho sobre os joelhos, onde depois se esticava a massa. A massa era esticada à mão até se obter uma folha transparente, tendo o cuidado de impedir o aparecimento de buracos ou rasgões. Os coscoréis eram depois colocados cuidadosamente na sertã.
• Durante a sua fritura, a cozinheira virava-os com dois paus de esteva e retirava-os depois sem os furar.
Bonecas de Palhais
No início do século XX, pelas margens do rio Zêzere (que por essa altura ainda não teria a sua albufeira), na terra das estevas, fala-se que teria existido uma caseira que terá conseguido criar sozinha quatro filhos com umas simples (e deliciosas) bonecas.
Com a força que caracteriza a própria esteva, quando esta mulher se viu viúva e com filhos para criar, meteu as mãos na massa. Sem ter o que colocar na mesa, terá recorrido à receita das bonecas, especialidade dos seus antepassados do lugar de Trízio (freguesia de Palhais). A venda destes bolos em festas de padroeiro, nomeadamente a de Dornes, terá permitido à “Ti Caseira” obter sustento para a sua família.
Esta tradição foi-se prolongando até aos dias de hoje e o legado desta brava mulher mantém-se vivo através dos seus descendentes que, com o seu cesto de canastro, continuam a vender estas características bonecas nas festas da Cumeada, de Palhais, da Fundada, e seus arredores.
Merendas Doces
As tradicionais merendas doces eram dadas como presente pelas namoradas aos seus amados por altura dos Santos. Serviam assim como agradecimento pelas amêndoas da Páscoa que os namorados lhes teriam oferecido.
A tradição nesta zona não passava por oferecer um folar aos afilhados na altura da Páscoa, mas sim um pão, para que estes e a sua família pudessem “matar a fome”. Com o passar dos tempos, o pão oferecido pelos padrinhos foi-se tornando um pouco mais doce, começando as merendas doces a substituir os tradicionais pães.
Em tempos idos, uma das formas de sufragar os mortos era através da esmola aos pobres. Com o mesmo intuito, as famílias ofereciam as merendas doces, tremoços e romãs às crianças que vinham pedir os bolinhos pelas várias casas da freguesia, repetindo: “Bolinhos, bolinhos em honra dos Santinhos” ou “Bolinhos, bolinhos à roda dos Santinhos”.
Nos dias de hoje, continua a existir o hábito de cozer as merendas doces pela altura dos Santos, oferecendo-as depois aos vizinhos.
Filhós
As filhós, também conhecidas por filhós de cova, devido à característica covinha que ganham quando estão a fritar, eram uma iguaria indispensável no jantar de Natal, bem como em algumas festividades, tais como o Carnaval ou a quinta-feira santa.
Eram igualmente presença assídua no final de qualquer grande atividade agrícola, como a apanha da azeitona, a vindima, malhas de cereais, ou a matança do porco (filhós da matança). Quando se dizia que se davam ou se faziam as filhós, isso significava que se estava a dar a tarefa por terminada.